[Short-Fic] Loving By 4 Days - Parte 1

Talvez, se previsse futuro, jamais teria julgado aquela viajem ao interior, de “chata”. Apesar de tudo, eu estava muito ansiosa para ir, e deixar minha cidade litorânea por uns dias. O caminho não era longo exatamente, eram 3 horas de viagem apenas.
A estrada era iluminada pelo forte sol, guiando aquele dia de céu límpido e celeste. Escutava Transylvania no volume máximo, não ouvindo nem um ruído a mais além da música, o que deixava minha tia louca por não ter uma segunda ouvinte para prestar atenção em suas reclamações. Conforme chegávamos mais perto da pequena cidade, a paisagem foi ficando cada vez mais bonita. Porém, uma linda paisagem nunca iria me alegrar. Eu só pensava naquele baixista britânico(da minha banda preferida) por quem eu era apaixonada, e de como eu iria ter meu encontro emocionante com ele. Por isso, um céu azul e uma flora maravilhosa não conseguiriam me tirar da cabeça os pensamentos que viajavam tristemente em volta de um amor incompreendido. Ninguém conseguiria fazer isso, ninguém.

Chegamos por volta das 16h00 na cidade. Hannah estacionou o carro no pequeno jardim, ladeado de arbustos e casas de passarinhos. Minha tia, Charlotte, passou rapidamente por nós, já fora do carro, para falar com a anfitriã, sua amiga de infância, Rose. Depois de todos os comprimentos e cortesias, e colocar as malas no quarto, dormi por umas três horas.
Quando acordei, já era de noite. Saí do quarto com as pernas bambas e trêmulas, escutando gritinhos agudos de crianças. Lavei meu rosto com aquela água gelada, reforcei o lápis preto e o rímel, e saí do banheiro como uma nova mulher! Estava eu tão concentrada em pegar a chapinha no quarto, que me assustei ao dar de cara com Hannah na soleira da porta. Ela me encarou por uns segundos.

- Que foi?! – Consegui dizer depois de um longo momento arfando por dentro.

- Vai se arrumar. Vamos até o centro. – Ela disse isso, e logo após saiu rapidamente para o jardim. Corri ao quarto, e peguei a primeira roupa que vi na frente. Minhas calças jeans escuras, uma blusa de manga comprida bem larguinha e listrada de preto e branco. Pondo as roupas, corri para fora da casa onde Hannah me esperava do lado de fora do portão. Me juntei a ela, e fomos descendo a rua calmamente. A cidade era realmente muito pequena. Era circundada de colinas, onde era possível ver cavalos, entre outros animais, já que ali, era uma área rural. Da casa de Rose, era possível ver a cidadezinha em baixo. Dali parecia longe, todas aquelas casas pareciam dar milhões de quilômetros a mais. A noite estava congelante, o vento batia em meu colo nu, me causando arrepios. Hannah olhou para mim, e me zoou pelo fato de eu não ter trazido um casaco. Entramos em uma das ruas principais, iluminada com luzes penduradas de uma casa a outra, com pessoas alegres passeando e cantando de um lado para o outro. As casas eram extremamente coloridas; o lugar era vívido e divertido. Nem parecia que aquelas mesmas pessoas ficavam tristes também.
Uma das coisas que mais me encantava naquele lugar, era o grande coreto na praça central. Mas o que eu havia esquecido, fora o outro coreto, o pequeno, em outra praça, na que eu havia ido na primeira vez que fui a aquela cidade, quando eu era pequena. O primeiro lugar em que me diverti ali.
Eu e Hannah subimos uma outra rua, ainda mais iluminada, me causando uma dor aguda nos meus globos oculares. Era impressionante como ali haviam pessoas da minha idade, tirando o fato de que todos os indivíduos tinham em mãos, uma lata de cerveja. Conforme íamos adentrando em outra rua, a iluminação foi desaparecendo, até sobrar as luzes amareladas dos postes. Minhas pernas doíam devido ao fato de estarmos andando uma subida numa rua de paralelepípedos. O barulho de vozerio foi diminuindo, e até uma lufada de ar gelado soprava por nós. Ao fim da rua, “desaguamos” na praça central, onde bem no meio, estava o coreto. O grande coreto. Parecia que eu havia voltado a ter 7 anos. Eu e ela nos sentamos em um banco, fitando as pessoas que passavam, e contando quantos Jipes da mesma cor passavam por ali, o que não eram poucos.

- Não me lembro dessa cidade ser tão pequena. – Murmurei para mim mesma, me lembrando da época em que não achava tudo um tédio, e que eu ainda não sabia o que era amor.

- Muito tempo passou. Você cresceu, Alice. – Disse ela. Inspirei pesadamente, jogando a cabeça para trás. Ergui a vista para o céu. Eram tantas estrelas, que eram possíveis ver nebulosas dali. Me perguntava se meu amado baixista estava olhando para o mesmo ponto que eu. Mesmo estando em lugares com horários diferentes. De súbito, senti meu celular vibrar no bolso, interceptando completamente minha admiração pelo céu estrelado. Assim que o peguei, ele estava desligando por falta de bateria.

- Ah Não! Porcaria! – Exclamei, com vontade de berrar todos os palavrões e palavras ofensivas que eu conhecia, em voz alta.

- O que é?! – Indagou Hannah levantando-se rapidamente.

- Meu celular! Ele descarregou, e eu perdi o carregador na minha casa! Eu não trouxe! – Disse eu desesperadamente, sem medir o volume de minha voz.

- Calma, calma, vamos pra casa, e a gente resolve lá, tá bom? – Perguntou ela pondo os braços em volta de meu pescoço, me forçando a andar. Fomos pelo caminho oposto ao qual vimos, passando por uma rua que não me era estranha. Conseguia ouvir ruídos de bateria. Andamos mais rápido para ver o que era. Mas antes de tudo, reconheci a praça, o restaurante, mas o mais importante. O coreto pequeno. E dentro dele, havia uma banda, o guitarrista tocando umas notas, e o baterista ajeitando os pratos de sua bateria. Passamos bem a frente, obtendo uma visão melhor dos músicos, quando me veio na cabeça, um detalhe. Minha banda preferida, costumava tocar em coretos. E essa analogia me deixou ainda mais atônita, quando eu vi, bem ali, um baixo. Parecia loucura, mas eu parei de andar no exato momento em que vi o instrumento reluzindo a poucos metros de mim.

- Espera. – Disse eu debilmente, puxando-a pela barra do cardigã preto, e esta me lançou um olhar entediado. – Eu quero ver. – Ela bufou, e sentou-se no banco que estava atrás de nós. Demorou um pouco, mas um garoto alto de cabelos pretos, subiu ao coreto, e pegou o baixo pondo a correia cuidadosamente. Eu fiquei paralisada, vendo os movimentos cuidadosos do garoto. Ele se aproximou do guitarrista, que lhe lançou um sorriso. Eu não conseguia desviar meus olhos dele. Mesmo parecendo impossível, de alguma maneira, eu tentava vincular aquele garoto, com o baixista que eu mais amava. Eu sabia que aquilo era apenas a passagem de som, mas só pelo o que tocavam, deveriam ser uma ótima banda. E bem diferente! Pois havia um garoto com violino, e outro com um contra baixo (ai Deus, mais baixos!).

- Hum, o baixista é o mais bonitinho... – Comentou Hannah. Senti minhas bochechas ruborizarem.

- É, eu sei. – Respondi tentando controlar a voz. Ela olhou pra mim, e deve ter percebido a forma obsessiva como eu o olhava.

- Ahhh, você quis parar só pra ver esse menino! – Disse ela rindo. Cruzei os braços como uma criança mimada, e me sentei ao lado dela.

- Não é nada disso. Eu só tenho admiração, porque meu músico preferido é um baixista, e foi isso o que me chamou a atenção nele. – Sussurrei. Tentei ser convincente, mas ela apenas me respondeu com uma risada.

- Vem, vamos embora. Amanhã a gente volta pra você procurá-lo. – Disse ela se levantando e caminhando em frente. Me levantei para segui-la, quando quis dar apenas mais uma olhada. Levantei do banco, e olhei por cima do ombro. O garoto tocava exibindo um belo sorriso. Eu estava tão deslumbrada, que pus um sorriso bobo no rosto quando nossos olhares se encontraram. E então, ele sorriu sem desviar o olhar. O frio na barriga era inevitável. Senti meu rosto quente, mas meu corpo em si, estava frio. Numa fração de segundo, eu não havia conseguido compreender o que acabara de acontecer, e virei o rosto bruscamente para seguir na direção oposta dele. Hannah me esperava bem a frente com um sorriso brincalhão no rosto. Dispensei explicações e segui ao seu lado. Eu sabia que não ia focar nos programas da viagem... Ou melhor, não somente. E tudo piorava, sem o meu celular.



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